quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

"Jesus Cristo - o Líder Perfeito" - por Spencer W, Kimball

Hoje, 25 de dezembro, o mundo cristão celebra o nascimento do menino Jesus, o qual, mesmo pela sua breve jornada na Terra, deixou para a humanidade diretrizes preciosas para nos orientar de como viver uma vida mais próspera em todas as áreas de nossas vidas. Hoje, um dia que devemos centrar o nosso focu Naquele que deu Sua vida por nós, devemos recordar quais foram os seus ensinamentos. Assistindo um documentário na Discovery  me lembrei de uma aula que preparei para ensinar em uma reunião de liderança da Igreja, a qual ficou sempre em meu pensamento qual é a  forma mais correta de liderar, tanto na comunidade, no trabalho, na igreja, até mesmo em casa....

 “Quando nos unirmos com base nos ensinos de Jesus Cristo no Sermão do Monte, teremos solucionado os problemas, não só dos nossos países, mas do mundo inteiro.”Elaine

   Jesus Cristo - Um Líder Perfeito
 1- Liderança Bem Sucedida
Há muito mais a se dizer sobre a inigualável liderança do Senhor Jesus Cristo do que é possível escrever em um único artigo ou livro. Todavia, eu gostaria de ressaltar alguns dos atributos e qualidades que Ele possui e que demonstrou possuir de modo tão perfeito. Esses mesmos atributos e qualidades são importantes para todos nós, se for nosso desejo ser bem sucedidos de forma duradoura como líderes.
2 - Princípios Imutáveis
Jesus sabia quem Ele era e porque estava nesta Terra. Isso significa que Ele era capaz de liderar com poder, sem incertezas ou fraquezas.
Jesus ministrava com base em princípios imutáveis, em vez de ir estabelecendo regras de acordo com as circunstâncias. Assim, Seu estilo de liderança era sempre correto e constante. Muitos líderes do mundo hoje são como camaleõesmodificam suas cores e opiniões para adaptar-se às circunstânciaso que somente tende a confundir seus seguidores e companheiros, que não podem ter certeza do curso a ser tomado. Aqueles que se agarram ao poder às custas de seus princípios, em geral acabam sendo capazes de fazer qualquer coisa para perpetuar-se nele.

Jesus declarou várias vezes: “Vem, segue-me.” Seu programa era do tipo “faça o que eu faço”, e não “faça o que eu mando.” Seu brilho inato lhe permitiria ser um espetáculo fulgurante, mas isso deixaria seus seguidores muito distantes. Ele caminhava e trabalhava com aqueles a quem deveria servir. Sua liderança não era mantida pelo distanciamento, pois Ele não temia a proximidade da amizade; Ele não temia que a proximidade pudesse desapontar Seus seguidores. O fermento da verdadeira liderança não engrandecerá outros a menos que estejamos com eles e sirvamos àqueles que devemos liderar.
Jesus mantinha a virtude de tal maneira que, quando essa proximidade permitia que alguém tocasse-lhe a barra dos vestidos, essa virtude fluía dele (veja Marcos 5:24-34).

3- Compreender o próximo
Jesus era um líder que escutava, que amava os outros com um amor perfeito, escutando-os sem, porém, condescender. Um grande líder escuta não somente aos outros, mas também à sua consciência e às impressões vindas de Deus. Jesus era um líder paciente, que exortava e amava os que o seguiam. Quando Pedro tomou a espada e cortou a orelha do servo do sumo-sacerdote, Jesus disse: “Mete a tua espada na bainha.” (João 18: 11). Sem enraivecer ou se mostrar perturbado, Jesus silenciosamente curou a orelha do servo (Veja Lucas 22:51). Sua reprovação a Pedro foi gentil, mas sem deixar de ser firme.

Por amar os que O seguiam, Ele era capaz de nivelar-se a eles a fim de ser sincero e direto. Ele reprovou Pedro às vezes porque o amava e Pedro, sendo um grande homem, crescia com cada reprimenda. Há um versículo maravilhoso no livro dos Provérbios do qual precisamos nos lembrar:

“Os ouvidos que escutam a repreensão da vida, no meio dos sábios farão sua morada.

O que rejeita a correção, menospreza a sua alma, mas o que escuta a repreensão adquire entendimento.”(Prov. 15: 31-32)

Aquele que consegue receber a “reprovação da vida” é um líder sábio e também um seguidor sábio. Pedro era capaz de aceitar a repreensão porque sabia que Cristo o amava e, portanto, Jesus conseguia preparar Pedro para uma posição de responsabilidade no Reino. Jesus considerava o pecado um erro, mas, ao mesmo tempo, era capaz de compreender que o pecado se originava nas profundas necessidades insatisfeitas do pecador, o que lhe permitia condenar o pecado sem condenar o indivíduo. É possível demonstrarmos amor por outros, mesmo quando devemos corrigi-los. Precisamos olhar profundamente nas vidas das outras pessoas para ver as causas básicas de seus defeitos e dificuldades.
4 - Liderança Abnegada
A liderança do Salvador era altruísta. Ele colocava a si mesmo e suas necessidades em segundo plano e ministrava os outros indo muito além do dever, incansavelmente, com amor e eficiência. Tantos problemas no mundo de hoje são causados pelo egoísmo e pelo egocentrismo. Muitos fazem exigências enormes à vida e aos outros a fim de atender suas necessidades. Tudo isso é o extremo oposto dos princípios e práticas exercidos com perfeição pelo exemplo primoroso de liderança, Jesus de Nazaré.

O estilo de liderança de Jesus enfatizava a importância do discernimento em relação aos outros sem procurar manipulá-los. Ele preocupava-se com a liberdade de escolha de seus seguidores. Mesmo Ele, naqueles momentos de tanta significação, teve de decidir-se voluntariamente a aceitar o Getsêmane e o Calvário. Ele nos ensinou que não pode haver crescimento sem a verdadeira liberdade. Um dos problemas da liderança manipuladora é que ela não se baseia no amor pelos outros, mas da necessidade de tirar proveito deles. Líderes desse tipo concentram-se em suas próprias necessidades e não nas dos outros.

Jesus via em perspectiva os problemas do povo. Ele conseguia calcular com precisão o efeito e o impacto de longo prazo de cada declaração, não apenas daqueles que as leriam, mas até mesmo de seu significado dois mil anos mais tarde. Freqüentemente os líderes deste mundo procuram resolver problemas imediatos procurando parar a dor do presente, criando, porém, dificuldades ainda maiores no futuro.

5 - Delegação
Jesus sabia como envolver seus discípulos no processo da vida. Ele lhes deu tarefas importantes e específicas para executarem a fim de procurarem seu próprio desenvolvimento. Outros líderes tentam ser tão onicompetentes e procuram fazer tudo por si mesmos, o que proporciona pouco crescimento aos outros. Jesus tem confiança suficiente em Seus seguidores para compartilhar com eles Sua obra, dando-lhes oportunidade de crescer. Essa é uma das maiores lições de sua forma de liderar. Se descartarmos as pessoas a fim de ter uma tarefa executada mais rápida e perfeitamente, a tarefa poderá ser bem executada, mas à custa do desenvolvimento dos seguidores, que é tão importante. Jesus sabe que a vida nesta Terra tem um propósito e que fomos aqui mandados para crescer. O crescimento, dessa maneira, torna-se tanto um dos meios quanto um dos objetivos da vida. Precisamos corrigir as pessoas positivamente, de um modo amoroso e útil, quando elas erram.

Jesus não temia fazer exigências daqueles que Ele liderava. Seu estilo de liderança não era condescendente ou fraco. Ele teve a coragem de chamar Pedro e outros e fazê-los largar suas redes de pescar e segui-Lo durante a estação de pesca, não depois dela ou depois da próxima pescaria, mas naquele momento! Jesus deixava as pessoas saberem que Ele acreditava nelas e em suas potencialidades, sendo assim possível para Ele ajudá-las a esforçar-se e a atingir grandes realizações. Tantos líderes seculares hoje são, de muitas maneiras, condescendentes e desprezam as pessoas, tratando-as como se devessem permanecer para sempre protegidas e mimadas. Jesus acreditava em seus discípulos, não só pelo que eles eram, mas também por aquilo que podiam tornar-se. Enquanto outros veriam em Pedro apenas um pescador, Jesus via nele um poderoso líder religiosocorajoso, forteque deixaria sua marca sobre boa parte da humanidade. Amar as pessoas significa ajudá-las a crescer, fazendo exigências razoáveis, mas realistas.

Jesus apresentava às pessoas verdades e tarefas de acordo com sua capacidade. Ele não as assoberbava com mais do que eram capazes de suportar, mas dava-lhes o suficiente para esforçarem-se. Jesus preocupava-se com os elementos básicos da natureza humana e em ocasionar mudanças duradouras, não apenas mudanças superficiais.
6 - Responsabilidades
Jesus ensinou-nos que somos responsáveis não somente por nossas ações, mas também por nossos pensamentos. Essa responsabilidade deve ser sempre lembrada. Vivemos numa época que enfatiza que “não há garantia contra o erro” e que também “não existe erro no comportamento humano”. Sem dúvida, não é possível haver responsabilidade sem princípios bem definidos. Um bom líder saberá que é responsável perante Deus e perante aqueles que ele lidera. Ao exigir responsabilidade de si mesmo, ele fica em uma posição melhor para exigir o mesmo dos outros. As pessoas tendem a ter um desempenho no padrão estabelecido pelos seus líderes.

7- Bom Uso do Tempo
Jesus nos ensinou também a importância de usarmos nosso tempo com sabedoria, o que não significa que não devamos ter tempo para o lazer, pois deve haver ocasiões para a contemplação e para renovação, embora o desperdício do tempo seja reprovável. Usar o nosso tempo com sabedoria é muito importante, o que não significa, entretanto, que devamos ser frenéticos ou impertinentes. O tempo não pode ser reciclado. Uma vez que o momento tenha passado, ele jamais voltará. A tirania da trivialidade consiste em desviar-nos das pessoas e dos momentos que têm real importância. Os detalhes podem tornar reféns as coisas de real significado e podem fazer com que essa tirania se torne freqüente. O uso sábio do tempo é, na realidade, o gerenciamento da nossa própria vida.

8 -Liderança Secular
As pessoas que mais amamos, admiramos e respeitamos como líderes humanos são assim considerados precisamente porque personificam, de muitos modos diferentes, as qualidades que Jesus tinha em Sua vida e em Sua liderança.

Por outro lado, os líderes que historicamente têm tido um impacto trágico e negativo na humanidade são vistos assim exatamente por não possuírem, em qualquer grau, as qualidades do Homem da Galiléia. Enquanto Cristo era altruísta, eles eram egoístas. Naquilo que Jesus dava liberdade, eles exerciam controle. Enquanto Cristo estava preocupado em servir, eles preocupavam-se com status. Enquanto Cristo atendia às necessidades genuínas dos outros, eles pensavam apenas na satisfação de suas necessidades e desejos. Quando Jesus se mostrava pleno de compaixão equilibrada com justiça, eles em geral enchiam-se de crueldade e injustiça.

Talvez nenhum de nós seja o perfeito exemplo de líder, mas todos podemos empreender sérios esforços para nos aproximarmos desse grande ideal.

9 - Nosso Potencial
Um dos grandes ensinamentos do Homem da Galiléia, o Senhor Jesus Cristo, é que trazemos dentro de nós imenso potencial. Ao nos exortar para sermos perfeitos como Nosso Pai Celestial, Jesus não estava brincando ou caçoando de nós. Ele estava nos revelando uma verdade poderosa sobre nossas possibilidades e potencial. Essa é uma verdade quase chocante demais para levarmos em consideração. Jesus, que não podia mentir, procurou nos chamar para seguirmos o caminho da perfeição.

Não somos ainda perfeitos como Jesus o é, mas, a menos que aqueles que nos seguem nos vejam lutando e nos tornando melhores, eles não poderão seguir nosso exemplo e vão nos enxergar como hipócritas em relação àquilo que nos propomos fazer.

Cada um de nós tem mais oportunidades de fazer o bem e de ser bons do que somos capazes de aproveitar. Essas oportunidades estão por todo lado. Seja qual for a extensão do nosso círculo atual de influência, se melhorássemos um pouquinho nosso desempenho, esse círculo se ampliaria. Há muitos indivíduos à espera de serem tocados e amados, se apenas tivermos o cuidado de melhorar nosso desempenho.

Devemos lembrar-nos que todos os mortais que encontramos nos estacionamentos, escritórios, elevadores e outros lugares fazem parte daquela porção da humanidade que o Senhor nos deu para amar e servir. Pouco se nos adiantará discursarmos sobre a irmandade geral de toda a humanidade se não conseguirmos enxergar aqueles ao nosso redor como nossos irmãos e irmãs.Se nossa porção da humanidade nos parece pequena e pouco estimulante, precisamos lembrar-nos da parábola que Jesus nos deu para nos mostrar que a grandeza não é uma questão de tamanho ou escala, mas da qualidade de nossa vida. Se nos sairmos bem com as oportunidades e talentos que nos foram dados, Deus não o deixará de observar. E àqueles que se saem bem com as oportunidades que lhes são dadas, mais será dado!
As escrituras contêm muitos exemplos maravilhosos de líderes que, ao contrário de Jesus, não eram perfeitos, mas que ainda assim se saíram muito bem. Ler essas histórias freqüentemente nos faria muito bem. Esquecemo-nos que as escrituras nos apresentam séculos de experiência em liderança e, ainda mais importante, nos mostram os princípios imutáveis sobre os quais a verdadeira liderança deve operar para ser bem sucedida. As escrituras são o manual de instruções do futuro líder.
10- O Líder Perfeito
Não me desculpo por reconhecer alguns dos atributos de Jesus Cristo naqueles que procuram ser líderes bem sucedidos.

Se desejamos ser eminentemente bem sucedidos, Ele é o nosso padrão. Todas as qualidades nobres, perfeitas e belas da maturidade, do poder e da coragem encontram-se nessa única pessoa.Quando a multidão enfurecida, armada até os dentes, aproximou-se dele para prendê-lo, Ele a enfrentou com resolução, perguntando a seus perseguidores: “A quem buscais?”

Surpresa, a multidão murmurou Seu nome: “Jesus de Nazaré.”

“Sou eu”, respondeu Jesus Nazareno, com altivez, coragem e poder. Os soldados recuaram e caíram por terra.”

Perguntou-lhes ainda uma segunda vez: “A quem buscais?”, e quando repetiram Seu nome, Ele lhes disse: “Já vos disse que sou eu; se pois buscais a mim, deixai ir estes.” (João 18: 4-8).

Talvez o mais importante que eu possa dizer sobre Jesus Cristo, mais importante do que tudo o que já disse é que Ele vive. Ele realmente possui todas as virtudes e atributos dos quais as escrituras nos falam. Se chegarmos a saber isso, então conheceremos a realidade principal sobre o homem e sobre o universo. Se não aceitarmos essa verdade e essa realidade, então não teremos o princípio estabelecido ou as verdades transcendentais pelas quais é possivel viver vidas felizes e caridosas. Em outras palavras, ser-nos-á muito difícil ser líderes que fazem diferença se não reconhecermos a realidade do líder perfeito, Jesus Cristo e se não deixarmos que Ele seja a luz através da qual enxergamos nosso caminho!



sábado, 20 de dezembro de 2014

OS MAIORES CÉREBROS DO MUNDO

Os maiores cérebros do mundo

As mentes mais extraordinárias da Terra pertencem a pessoas que mal conseguem falar ou calçar os próprios sapatos. Conheça os savants - e o que eles podem nos ensinar sobre os limites da inteligência humana

Kim Peek lê um livro de 300 páginas em 40 minutos. Uma página com cada olho. Esse americano de 57 anos já leu 9 mil livros, o que dá mais ou menos um a cada dois dias desde a infância. E com uma diferença em relação a você: ele não esquece nada do que leu. Kim sabe de cor a história de todos os países, seus presidentes, quando eles nasceram, quem foram as esposas deles... Recita qualquer trecho da Bíblia, do Alcorão ou da estrutura de um ônibus espacial.
E tudo isso é pouco perto do que o britânico Daniel Tammet faz. Ele simplesmente inventou uma matemática particular. Pergunte para Daniel quanto é, digamos, 27 elevado à 5ª potência. Ele vai responder rapidinho que isso dá 10 460 353 203. Só que sem ter feito uma conta nem decorado nada. Os resultados surgem por mágica na cabeça desse inglês tímido de 29 anos. E ele não é incrível só com números. A rede americana de TV PBS o desafiou a aprender islandês, uma língua que até quem nasceu na Islândia acha complicada, em uma semana. Sete dias depois, Daniel estava num talk show em Reykjavik contando que o idioma deles era “mjög fallegur” (“muito bonito”) – era a 11a das línguas que ele aprendia a falar fluentemente.
Daniel e Kim, diga-se, têm outra coisa em comum além desses superpoderes: os dois são deficientes mentais, diagnosticados como autistas. Kim mal consegue falar, não sabe abotoar a camisa e, quando criança, lhe recomendaram internação para o resto da vida. Daniel é mais comunicativo, um rapaz bem simpático até, mas se sente perturbado quando anda em ruas movimentadas e é tão desligado que não consegue pegar um ônibus sem se perder. E eles não são únicos. Isso de combinar algum problema mental com brilhantismo, ou até genialidade, em certas áreas, é conhecido como síndrome de savant (“sábio”, em francês), uma condição raríssima que desafia as idéias sobre como a mente funciona.
Afinal, ninguém deveria ser capaz de decorar com precisão a quantidade de informações que os savants (vamos chamá-los assim, daqui para a frente) conseguem acessar sem o menor esforço em seus “discos rígidos” cerebrais. Também não parece fazer sentido a maneira como muitos deles lidam com a matemática: fazer contas gigantes é, para eles, uma atividade não consciente, como andar de bicicleta. E se pessoas com inteligência e habilidades sociais normais aprendessem como fazer isso? Será que todo mundo tem um “savant adormecido” dentro do próprio cérebro? É o que veremos a seguir.
Idiotas sábios

A primeira descrição que temos do savantismo foi feita em 1887 por John Langdon Down, psiquiatra britânico mais conhecido por ter feito também o primeiro relato científico sobre a síndrome de Down. Uma das principais experiências de Down com savants envolveu um paciente que conseguia recitar de cabeça o livro O Declínio e Queda do Império Romano, um catatau de 6 volumes. Down batizou os portadores do problema de “idiotas savants” (calma, na época “idiota” era um termo técnico).
Alguma forma extraordinária de memorização parece estar por trás de todos os casos de savantismo, mas é bom qualificar essa afirmação: trata-se de uma memória diferente da que você usaria para decorar um número de telefone, por exemplo. Parece envolver pouco pensamento consciente e, muitas vezes, nem exige compreensão do que está sendo decorado. Darold Treffert, psiquiatra da Universidade de Wisconsin em Madison (EUA), relata o caso de dois gêmeos americanos com dano cerebral congênito, George e Charles, que não conseguiam fazer contas de somar simples, mas se divertiam gritando um para o outro números primos (os que só são divisíveis por 1 e por eles mesmos) de 20 dígitos, da ordem de quintilhões. Em comparação, a sua memória só consegue lidar com 7 ou 8 algarismos. É inconcebível fazer operações mentais conscientes com números desse tamanho.
George e Charles, assim como Kim Peek e vários outros savants, também eram calculadores de calendário. Se você disser a Peek em que dia do mês e ano nasceu, ele responde imediatamente com o dia da semana em que você veio ao mundo.
O preço que se paga para ser um savant é alto. Em geral, esses indivíduos são 10% dos autistas, ou uma a cada 2 mil pessoas que sofreram algum dano no cérebro ou nasceram com retardo mental. Uma grande exceção é justamente Daniel Tammet, diagnosticado com síndrome de Asperger, uma forma moderada de autismo – o portador tem boa capacidade verbal, embora normalmente seja um desastre social.
Além de ser um savant, Tammet também tem sinestesia, uma forma rara de percepção que faz o cérebro misturar sentidos – sons podem ter cores associadas a eles, por exemplo. E isso torna a mente do rapaz ainda mais fascinante. A sinestesia dele é numérica. Ele afirma que todos os números de 0 a 10 mil possuem formas visuais específicas e até personalidades, como se fossem indivíduos mesmo. “O 11 é amigável, o 5 é barulhento e o 4 é meu número favorito, porque é quieto e tímido como eu”, conta Tammet em sua autobiografia.
O britânico também reconhece todos os números primos até 9 973 porque eles lhe parecem “redondos e lisos, como os seixos numa praia”. Ao fazer multiplicações enormes, seu tipo favorito de contas, Tammet visualiza as tais formas dos números que estão sendo multiplicados lado a lado, separados por um espaço. Essa brecha entre os números tem exatamente o formato do produto da multiplicação: basta ele preenchê-la para que ele saiba, em poucos segundos, a resposta certa (veja aqui ao lado).
O neurocientista Vilayanur Ramachandran, do Centro de Estudos do Cérebro de San Diego, testou as formas numéricas de Tammet, pedindo que ele as moldasse usando massinha de modelar e, no dia seguinte, que as refizesse. O resultado foi consistente, ou seja, o rapaz associa sempre a mesma forma ao mesmo número. O inesperado nas capacidades de Tammet é que as pessoas normais tendem a pensar nos números como abstrações puras, enquanto ele os transformou em objetos altamente concretos, coisas tão fáceis de entender intuitivamente quanto um cachorro ou um gato. Esse pode ser um segredo da inteligência savant, de acordo com Darold Treffert. A memória que mais usamos para atividades intelectuais é a consciente, que nos ajuda a lembrar se “espaço” se escreve com s ou cê-cedilha. Mas há outro tipo importantíssimo de memória: a implícita – aquela que nos permite trocar as marchas do carro sem pensar.
Você pode ser um savant
Ao que parece, os danos mentais que os savants têm os deixam sem acesso a grande parte da memória consciente. Então seu cérebro simplesmente transfere as funções dela para a implícita. E eles fazem automaticamente coisas que temos de pensar (e muito) para fazer. É uma capacidade não muito diferente de reconhecer um rosto. Nós nunca precisamos de uma descrição verbal da cara de um amigo para determinar que ele é o Paulo, e não o José: nosso cérebro simplesmente sabe. Para Tammet, os números funcionam assim. E talvez você seja mais parecido com ele do que imagina.
É o que pensa o neurologista Allan Snyder, da Universidade de Sydney. Para ele, existe um Daniel Tammet dentro da sua cabeça. Esse “savant interior”, segundo o autraliano, foi quem fez você aprender a falar. Se você se mudar para a islândia e tiver um filho lá, terá uma criança bilíngüe em casa. Ela vai aprender português em casa e islandês na escola, e falar os dois idiomas. Você pode até aprender a língua local, mas nunca terá a fluência do seu filho.
Essa habilidade mágica de “sugar” um idioma existe apenas na infância porque a mente vai “calejando” com o tempo. Por exemplo: Quem lê um txto scrito dete jeto consegue entender a frase porque o cérebro criou padrões para cada uma dessas palavras. Com os sons de um idioma estranho é o contrário: sua mente está tão calejada com o português que decifrar novas línguas de ouvido não é fácil. Já os savants não teriam esse problema. Para Snyder, os danos físicos no cérebro deles impedem que esses calos mentais apareçam. Daí a capacidade de aprender islandês em uma semana.
E a coisa mais maluca aqui é que Snyder quer fazer com que esse savant que um dia esteve na sua cabeça apareça de novo para dar um oi. Como? Aplicando ímãs no crânio. A idéia é “desligar” temporariamente partes da massa cinzenta a fim de simular os danos que os savants têm no cérebro. E assim fazer com que você veja o mundo como se fosse um deles. E não é que deu certo? Snyder fez com que pessoas submetidas ao experimento “virassem savants” por algum tempo, desenhando de forma mais precisa ou encontrando com mais facilidade erros de digitação que o cérebro das pessoas normais costuma ignorar. E o australiano vai mais longe. Ele acredita que novas versões de experiências como essas poderiam despertar a criatividade de gente comum. Afinal, por alguns minutos, poderíamos absorver informações em estado bruto, sem o filtro dos padrões mentais. Aí seria possível usar isso para desafiar idéias preconcebidas e inovar.
Como, aliás, inovaram dois savants famosos: Isaac Newton e Albert Einstein. Não, não existe prova nenhuma de que eles portavam essa condição. Mas alguns neurologistas acham que os dois apresentavam, sim, pelo menos alguns sintomas da síndrome de Asperger – principalmente inabilidade social e obsessões compulsivas. De fato, Newton mal abria a boca e ficava imerso no trabalho a ponto de não comer. E Einstein, que se comportava como um autista até os 7 anos, repetindo frases sem parar, era tão desligado que certa vez não percebeu um terremoto enquanto divagava. Talvez nunca saibamos se eles eram ou não versões moderadas de Daniel Tammet. Mas Einstein pode ter deixado uma pista: “Uso sinais, imagens mais ou menos claras, como ferramentas para pensar. Elas se encaixam sozinhas, voluntariamente. Esse jogo de combinações me parece mais essencial que construções lógicas com palavras”. Foi o que disse certa vez o alemão. Qualquer semelhança disso com o que você leu nestas páginas talvez não seja mera coincidência.

Cálculo savant
Daniel Tammet foi o primeiro savant que conseguiu descrever como sua mente faz cálculos sobre-humanos sem fazer força. Veja como. (E nem pense em tentar você mesmo!)
Pense em 3D
Ele imaginou formas para todos os números entre 0 10 mil. Cada um ganhou identidade própria.
Veja quem se encaixa
Para multiplicar, ele aproxima mentalmente os "números" e deduz como preencher o espaço entre eles.
Pronto!
Então Tammet lembra que forma tem o número que se encaixa melhor no espaço vago. E dá a resposta certa.

Para saber mais: Born on a Blue Day - Daniel Tammet, Free Press, 2007
fonte:  Texto por Reinaldo José Lopes, Revista Super Interessante - setembro 2008