O dia 4 de março é um dia marcante na história dos Estados
Unidos da América e na história da luta contra a escravatura: Abraham Lincoln
tornou-se no décimo sexto presidente dos EUA. Unanimemente considerado um dos
três mais importantes presidentes da história dos EUA, Lincoln é um verdadeiro
príncipe da humanidade.
Haveria de pagar com a própria vida a “ousadia” de ser um
ser presidente excecional para quem o princípio de que todos os homens nascem
iguais era sagrado, pois morreu assassinado em 15 de abril de 1865.
Lincoln foi presidente extremamente americano e
visceralmente universal, pois o seu mandato ficou marcado pela busca da União
entre todos os Estados que compunham a nação americana e igualmente pela luta
pela abolição da escravatura. Para atingir os seus objetivos lançou mão de
todos os instrumentos possíveis, jogando com a sua capacidade de persuasão –
era um orador emérito -, com o seu poder enquanto presidente, com a sua empatia
junto de congressistas, militares e povo; com a lei e com o tempo. A propósito
da luta pela abolição da escravatura, Lincoln aplicou divinlmente aquele
princípio de Maquiavel: “O fim justifica os meios”. Lincoln era um homem
determinado, um político astuto, um ser humano ímpar. Tinha o dom da oratória,
como se comprova pelos debates que levou a cabo em 1858, por toda a América,
explicando aos seus concidadãos que a escravatura era um ato indigno. É desse
ano o celebérrimo discurso da Casa Dividida, baseado no evangelho de S. Marcos:
"Uma casa dividida contra si mesma não pode permanecer. Eu acredito que
este governo não pode suportar, permanentemente, ser metade escravo e metade
livre. Eu não espero a dissolução da União, eu não espero ver a casa cair, mas
espero que deixe de ser dividida. Terá que se tornar inteiramente algo uno, ou
todo de outra forma."
Mais tarde, em 1863, teria outro assumo oratório que ficou
na História com o Discurso de Gettysburg, proferido quatro meses depois da
batalha com o mesmo nome, que se revelou decisiva na Guerra de Secessão. Este
discurso, com menos de trezentas palavras, teve um impacto enorme, além de ser
recorrente na cultura americana, é um hino à liberdade e à igualdade.
Cito apenas uma pequena parte:
«Há 87 anos, os nossos pais deram origem neste continente a
uma nova Nação, concebida na Liberdade e consagrada ao princípio de que todos
os homens nascem iguais. (..)
Cumpre-nos, antes, a nós os vivos, dedicarmo-nos hoje à obra
inacabada até este ponto tão insignemente adiantada pelos que aqui combateram.
Antes, cumpre-nos a nós os presentes, dedicarmo-nos à importante tarefa que
temos pela frente – que estes mortos veneráveis nos inspirem maior devoção à
causa pela qual deram a última medida transbordante de devoção – que todos nós
aqui presentes solenemente admitamos que esses homens não morreram em vão, que
esta Nação, com a graça de Deus, renasça na liberdade, e que o governo do povo,
pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da terra.»
Lincoln convencia quando discursava, entusiasmava quando
liderava, alcançava o que pretendia na ação política. Ganhará a guerra pela
União contra os Confederados e sobretudo soube conduzir em paralelo a abolição
da escravatura. Lutou, com astúcia e determinação, por dois bens que pareciam
difíceis de alcançar ao mesmo tempo e venceu, porque era um homem e um político
superior. Em 1862, deu-se, no meu entender, o momento decisivo do seu mandato
com a Proclamação da Emancipação, lei que entrou em vigor no primeiro dia de
1863 e que abolia a escravatura em todo o território confederado ainda em
guerra civil. Com este pequeno grande passo, ficava a porta aberta para aquilo
que Lincoln arquitetou: a XIII.ª Emenda Constitucional
“Não haverá, nos Estados Unidos ou em qualquer lugar sujeito
a sua jurisdição, nem escravidão, nem trabalhos forçados, salvo como punição de
um crime pelo qual o réu tenha sido devidamente condenado.”
Com Lincoln os EUA não ficaram mais ricos monetariamente nem
chegaram à Lua primeiro que qualquer outro povo, no entanto a humanidade ganhou
uma dignidade que ainda hoje não é imaculada.
Gabriel Vilas Boas
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