sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Comportamento : O CONSUMISMO

O Desejo de Lucro Imediato Causou o Consumismo, Que Vem Destruindo a Economia Verdadeira

 
A filosofia que impera no mundo atual é praticamente comandada pelo desejo de lucro que tomou conta de toda a sociedade; vamos dizer que as pessoas que possuem um cargo procuram ver o que o seu semelhante deseja, para fazer-lhe a sua vontade. É o predomínio amplo do princípio de prazer, uma inversão total sobre as necessidades humanas. E, no entanto, a humanidade nunca esteve mais necessitada do que agora de bens materiais.


Em cada época, o gênero humano se dirigiu por uma determinada maneira de pensar:


a) na civilização romana, os indivíduos acreditavam que o poder de Roma era a sua maior garantia;
b) na Idade Medieval, tal crença passou para o poder das Igrejas;
c) e finalmente, a partir da Idade Moderna, todo o poder foi colocado no dinheiro.


Sem dúvida alguma estamos vivendo dentro de uma visão econômica sobre o homem, que leva todo o indivíduo a raciocinar em torno do lucro que determinada pessoa pode causar a ele.




Socialmente, as reuniões, festas e encontros são organizados dentro desse espírito; o relacionamento humano visa dar vazão à exploração de um indivíduo sobre o outro.


O ser humano é tratado sem dignidade devida, porque é visto em função de sua lucratividade: como ele poderia produzir bens materiais, ou como seria possuidor desses mesmos bens, no caso do milionário. Vamos dizer que somos considerados pelo que temos (riquezas materiais) e não pelo que somos. Isto, sim, é que pode ser chamado de materialismo. Por exemplo: o maior tenor da atualidade é Pavarotti; em cada apresentação que ele faz no “Metropolitan Opera House” ganha 100 mil dólares não porque ele seja um autêntico herdeiro de Caruso, Tito Schipa e Begniamino Gigli, mas porque ele poderá trazer um lucro maior ainda ao famoso teatro.


Acredito que os países ocidentais mais ou menos sabem da péssima situação econômica atual, conduzida pelas idéias errôneas americanas - aliás, tomada de John M. Keynes. A própria Europa Ocidental se colocou na dependência dessa política, e está com medo de enfrentar agora uma nova situação que se aproxima. De outro lado, o controle que o Estado exercia sobre os comerciantes no tempo da política mercantilista da Inglaterra era extremamente nocivo para a economia - mas a idéia posterior de total liberdade, que pecou dentro do mesmo erro, porque caiu em outro extremo. Antes, era o rei que controlava todo o poder econômico; agora é o próprio indivíduo que lida com as riquezas - submetendo inclusive os imperadores atuais a ele.


Muito se tem falado sobre as riquezas de uma nação; alguns afirmaram que seu valor estaria no ouro e prata acumulados nos porões - seria a idéia antiga do monetarismo, quando as moedas teriam o seu valor baseado no metal precioso que continham. Em seguida surgiu Quesnay que valorizou a terra, dizendo que a r­queza seria proveniente dela, pela agricultura; era a idéia fìsiocrática que Alam Smith aceitou, incluindo o valor do trabalho. Porém, incentivou o consumismo colocando a produtividade (quantidade) na base; aqui está a origem do homem-máquina, que foi obrigado a se transformar em um robô, como se fosse mais uma engrenagem dentro do sistema econômico-social.


Existem duas causas básicas para todos os distúrbios do ser humano; a primeira localizada em sua má intenção, na soberba, ódio e inveja; a segunda, na estrutura social invertida e desumana, que cria enorme tensão psicológica, com todas as funestas conseqüências que já conhecemos - e o motivo principal deste estado é proveniente do sistema econômico capitalista. Assim como a dialética correta é o fundamento da sanidade, porque trabalha com a essência e existência, os seres revoltados organizaram a dialética invertida que, evidentemente, não funciona - como por exemplo: capital e especulação, que vêm trazendo a humanidade acorrentada a essa terrível situação.


A humanidade tem de considerar que a civilização atual chegou a um total esgotamento, filosófico, teológico, científico e econômico; todos os sistemas usados até agora não apresentam mais qualquer fôlego para continuar se desenvolvendo. Se hoje em dia as nações possuem exércitos e armas, assim como anti­gamente os senhores medievais fortificavam suas propriedades, é porque algo de muito errado acontece com os países e os indivíduos. E enquanto não houver um sistema econômico-social justo, os que possuem algum poder tem de usar força para permanecer lá.


A única maneira de fazer com que o ser humano aceite trabalhar com prazer é realizar algo para si mesmo e a sociedade. Sabemos que a finalidade do trabalho atual é a de fornecer lucro financeiro imediato para os proprietários das indústrias, firmas comerciais, fazendas, e para os governos, quando eles, também são donos das empresas. Temos de desinverter tal situação, e levar o homem a agir em seu próprio interesse. Porém, este é apenas o primeiro passo.


O mais importante de tudo é organizar uma estrutura de trabalho que seja, todo ele, um benefício geral, do indivíduo e da sociedade - eliminando pouco a pouco toda atividade egoísta, de lucro imediato, que só vem servindo para destruir a natureza, e levando o homem para as doenças psíquicas e orgânicas. Só neste caso é que podemos dizer que o dinheiro é supérfluo. O ser humano deve tentar ser útil e não daninho para a humanidade, e para si próprio, como decorrência.
 
Norberto R. Keppe, Trabalho & Capital, Parte A-capítulo 12, páginas 48-50, Proton Editora Ltda., 3ª edição, 2003

Norberto R. Keppe,   psicanalista, filósofo e cientista social, Norberto Keppe, criador do método da Psicanálise Integral ou Trilogia Analítica e autor de mais de 30 obras sobre a psico-socio-patologia.


 
 

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